Trata-se de uma festividade bastante antiga, muito embora a ermida actual não seja a primitiva e já haja sido reparada eintegrada no culto duas ou três vezes. “É muito antiga a devoção que os Picoenses consagram ao Mártir São Sebastião. Talvez por isso – não devendo ser alheia a homenagem ao “Desejado” D. Sebastião – já anteriormente a 1592, existia uma ermida no local denominado hoje “São Sebastião-o-Velho”, ao saínte do lugar da Almagreira, subúrbio da Vila das Lajes, pois nesse ano Bárbara Gaspar, natural da freguesia da Santíssima Trindade (Lajes do Pico) testava em favor daquela ermida. Trata-se de um local muito aprazível, donde se desfruta um magnifico panorama da Vila. Ali possuíam alguns lajenses quintas com as respectivas casas de abrigo, onde passavam a estação calmosa. E foi numa delas, por haver pertencido à Família, que foi oferecido ao General Lacerda Machado, aquando da sua última visita à terra natal, em Setembro de 1940, um jantar ”garden-party” muito concorrido e que o ilustre lajense bastante apreciou, recordando os seus tempos de infância.
O visitador João Baptista do Amaral, que esteve na ermida no dia 29 de Novembro de 1709, deixou no livro das visitas Episcopais da Matriz da Santíssima Trindade o seguinte despacho:” Visitei as ermidas de São Sebastião e de Santa Catarina, sufragâneas a esta Matriz, ambas quase incapazes de nelas se celebrar, pela pobreza e não haver fábrica nas ditas ermidas, pelo que mando ao Rev.do. Vigário recolha as imagens a esta Matriz até que se reparem do necessário e reparado o que fica à disposição e cuidado do Rev.do Vigário, tornarão as imagens para as ditas Ermidas.”(1)
A Ermida de Santa Catarina, naturalmente porque estava junto das propriedades do Morgado Manuel Cardoso Machado Bettencourt, foi reparada e voltou ao culto. (Não refiro a questão judicial que decorreu sobre a sua propriedade). Presentemente pertence à Paróquia ou Diocese, por legado dos antigos proprietários.
A ermida de São Sebastião, no século XVIII foi transferida para a Ribeira do Meio e construída no local onde actualmente se encontra, muito embora o Autor da “História das Quatro Ilhas que formam o distrito da Horta”, haja escrito em 1871: “também no bairro da Ribeira do Meio existe uma ermida de S. Sebastião, que há anos alguns devotos ampliaram: mas apenas lhe deitaram a madeira em cima, e a abandonaram e assim se conserva.”(2). Silveira de Macedo, naturalmente, não teve conhecimento do livro da “Arca das Três Chaves”, cuja propriedade devia ser reservada à Matriz e, naturalmente por isso, não faz referência à anterior ermida no Cimo da Almagreira.
A actual ermida de S. Sebastião tem recebido alguns reparos e, durante muitos anos foi zelada pela Família de Manuel José e, depois, pela do genro Manuel da Rosa. O altar foi mais tarde totalmente construído, na década de quarenta do século passado, pelos Irmãos Rodrigues Quaresma (os Importantes como eram conhecidos) e, recentemente, recebeu novas beneficiações.
No bairro da Almagreira, como diria Silveira de Macedo, foi construída, a meio do povoado, uma ermida dedicada a Santa Isabel, a expensas do luso-americano Manuel de Brum, a qual foi totalmente restaurada, após o sismo de 9 de Agosto 1998, com projecto dos arquitectos Rui Pinto e Ana Rochel, que mereceu mais tarde honrosa classificação.
A festa da Rainha Santa Isabel, por influência do Pe. José Carlos Vieira Simplício, dali natural, beneficiou de grande incremento, introduzindo-se num dos dias o “bodo do leite”, em S.Sebastião-o-Velho, para o que foi, nos últimos anos, construída uma pequena capela onde é recolhida a Imagem da Santa portuguesa, enquanto dura o arraial, e que para ali vai em procissão festiva. Parece que a Festa de Santa Isabel está separada do Bodo de Lei, realizando-se este no mês de Agosto. Trata-se de um aprazível lugar, situado num monte donde se desfruta, como disse, agradável panorama. O bodo de Leite já entrou na tradição das festas populares. É uma festa típica única no género realizada na ilha. Os Lavradores fazem descer algumas das suas vacas leiteiras, vindas das pastagens próximas de S. Sebastião-o-velho e oferecem o leite delas extraído a todos os que ali se encontram.
A festa de Santa Isabel realiza-se no mês de Setembro e atrai àquela zona imensas pessoas, não apenas da freguesia como de diversos lugares da ilha que ali vão passar o dia em aprazível convívio numa zona fora do bulício diário e do calor que, ainda nessa época, se faz sentir.
A festa de São Sebastião tem lugar no próximo domingo, 20 do corrente, (próximo do dia litúrgico) e costuma, igualmente, atrair à Ribeira do Meio (ou Bairro da Ribeira do Meio) muitos forasteiros, uma vez que se festeja o santo protector da doença da peste; quando, na Almagreira, se reza no domingo seguinte, a festa de Santo Antão, protector dos animais, embora a Igreja lhe atribua outra intenção.
E recordo o entusiasmo que, desde estudante, o Padre José Carlos punha na realização das festas do seu lugar, apesar de nunca ter paroquiado por estes lados.
________
1) Avila,E. “Figuras & Factos”, 1993, pág.115
2) Silveira Macedo, A.L., “História das Quatro Ilhas Que Formam o Distrito da Horta”1871, III Vol. Pág.8
Voltar para Crónicas e Artigos |